Há mais marés do que marinheiros.

Como nevoeiro cerrado que desce sobre o mar, deixando à vista apenas um par de rochas e uma porção ínfima do corpo de água que se estende ao oceano, a memória é uma paisagem altamente flexível e mutável. Sobre as nossas vivências e experiências edificam-se, muitas vezes, pensamentos e emoções que não faziam parte da mobília original ou que, pelo contrário, vão desvanecendo gradualmente até deixarem de existir. 

É no barco ancorado entre ficção e realidade que encontramos Marta Nunes, ilustradora que se apropria do mundo em redor para construir narrativas em forma de imagem. (…)

Há mais marés do que marinheiros é um universo surreal e poético que se divide em dois: de um lado, os pescadores de rosto encorrilhado e costas dobradas pela dureza do ofício com o mar pendurado na cabeça ou cravado na pele; do outro, as ondas e marés que refrescam e acalentam os dias pós-confinamento e que nos lembram que é sempre possível recomeçar. “Uma pessoa faz-se ao mar e pode correr bem ou não, mas amanhã é outro dia”, reflecte a ilustradora para quem tudo se resume a “histórias e pessoas”.

Maria Monteiro in TimeOut PORTO

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